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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Inescrupulosos se dão bem

O mundo repudia os mansos e favorece aos inescrupulosos
Este texto é fruto de minhas reflexões, meramente um reflexo de minhas mais triviais opiniões.

Friedrich Nietzsche foi um homem forte, pelo menos assim dizia quando vivo. Foi um fervoroso crítico dos hipócritas; dos que se diziam possuidores de nobres virtudes, mas que no íntimo não passam de mentirosos mascarados.
Hoje em dia o homem forte pensado por Nietzsche é visto como o homem que não tem compaixão, que não se coloca no lugar do outro para sentir as dores alheias. Para o homem contemporâneo o homem forte é o inescrupuloso.
Vitor Frankl, um psiquiatra judeu que passou pelos campos de concentração nazistas, relatou que as pessoas sensíveis, virtuosas, dotadas de valores e princípios fortes foram as primeiras a sucumbir por não abrir mão destes valores. Acrescenta que quem saiu vivo disso tudo foram os mais inescrupulosos, ou seja, aqueles que tiveram a capacidade de desenvolver uma apatia perante a toda aquela barbárie. Entretanto não temos o direito de julgar ninguém que luta pela própria pele, afinal a apatia é um mecanismo de defesa poderoso ligado ao instinto de sobrevivência.
Em outro livro que trata de assuntos semelhantes, a Pele, de Curzio Malaparte, relata a triste realidade do pós-segunda guerra em que as pessoas são capazes de tudo para salvar a própria pele. Até agora estamos falando de situações limites e acontecimentos extremos que leva a pessoa a desenvolver um grau de apatia. Mas quanto às situações cotidianas mais brandas em que as pessoas passam e não se importam tanto? Nestas pequenas situações o que justifica o abrir mão de valores e princípios superiores?
Perante grandes crises, guerras e desastres são os inescrupulosos que mais se dão bem; são os que têm mais chances de saírem ilesos. Para exemplificar: perante uma guerra o soldado que retornar ao campo de batalha para salvar seus companheiros de guerra, condenados a uma morte certa, terá suas chances de sobreviver reduzidas; o empresário, perante a uma grave crise econômica, que luta para manter os funcionário e pagar todas as suas dívidas sem burlar o sistema, corre sérios riscos de falir.
Não sei, mas tenho a leve impressão de que o mundo não é dos mansos e justos, mas sim dos inescrupulosos e agressivos, pois estes têm mais facilidade de passar por cima de valores humanos para salvar a si mesmos em primeiro lugar. E são esses que se mantêm vivos em tempos de guerra, são esses que mantêm o dinheiro em tempos de crise, até mesmo conquistam grandes fortunas nas crises. São esses que se mantêm no emprego perante injustiças de diferentes naturezas. São esses os homens fortes que Nietzsche se referia?
Acredito que não. Os homens fortes são aqueles que se mantêm firmes em seus valores, virtudes e princípios humanos perante a qualquer situação exterior, mesmo que isso signifique sua própria ruína. Esses são os verdadeiros heróis; aqueles que são capazes de fazer pequenos e grandes sacrifícios, não por eles mesmos, mas pelos demais.
Na atualidade o valor do inescrupuloso que é almejado. Quantos cursos de inteligência emocional têm por aí, não é mesmo? Para o pensamento do homem médio contemporâneo, o homem inescrupuloso que é o modelo ideal, que é o homem bem sucedido na vida... O que venceu.
Nietzsche tem uma frase incrível, que é assim: “Quem tem um porquê suporta quase todo como”. E este porquê de cada um são valores superiores e humanos.

Agora eu digo, olhando de frente para meus contemporâneos, numa atitude de “ressentido” e “sensível”: Quem luta em nome de seu próprio ego suporta fazer quase tudo nesta vida. E é esta a máxima do homem forte, do homem da moda e bem-sucedido.

Imagem: não consegui identificar o autor

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