Do Ser e da Aparência
Este artigo se trata de um acompanhamento reflexão de uma palestra de
Leandro Karnal.
O que pode nos fazer feliz? O quê
eu não sei, mas Leandro Karnal nos diz em uma palestra que não é o que o mundo
diz o que somos que vai nos fazer felizes. Diz ainda que é o que pesamos que poderá
nos trazer alguma felicidade. O que construímos mentalmente é que nos faz felizes
ou infelizes.
Lembro-me de outro autor, Vitor
Frankl, que fala que o ser humano tem uma única liberdade: que é de escolher
como vamos ser afetados pelos acontecimentos que não dependem de nós. Frankl
foi prisioneiro dos campos de concentração, e lá, em meio a toda aquela
barbárie, ele viu que poderiam tirar tudo dele menos essa liberdade íntima de poder
escolher como reagir a todas aquelas coisas.
Então será que é o que pensamos
que determina as pegadas que deixaremos no mundo?
O que pensamos está dentro de
nós. E o mundo não olhará para isso. O mundo procura o externo para ver e
julgar. Ou seja, o mundo nos mede pelo que parecemos ser. Eu sou um, mas o
mundo me olha e me mede pelo que pareço ser. E agora como resolver esse
impasse? É só fazer o nosso exterior, nossa aparência, parecer o mais possível com
o que pesamos interiormente. A isso podemos chamar de coerência e de
integridade.
A teoria é bem simples, mas na
prática... Basta ser o mais coerente possível com o que pensa e com o que faz. Deste
modo aquilo que se pensa é refletido naquilo que se faz e o mundo nos medirá
pelo que somos de verdade.
O mundo nos mede pelo que
parecemos ser e nós medimos o mundo pelo que ele parece ser. E pior, medimos o
mundo comparando ele com outra coisa, geralmente, para piorar as coisas, com a
gente mesmo. Para exemplificar: eu olho para o outro e vejo sua aparência, e a
comparo com a minha aparência. Isso é um duplo erro, pois a comparação gera
ainda mais ilusão. Eu sou alto perante alguém baixo. Só me acho feio porque tem
alguém mais anatomicamente harmônico que eu. Com o qual me comparo e me acho
feio.
Leandro Karnal lança um belo
exemplo, um ditado português: “o insulto é como um veneno, só funciona se beber”.
Quando alguém nos insulta ou nos agride nos podemos escolher beber deste veneno
ou não. Se bebermos do veneno significa que nos identificamos com o insulto. E isso
não é ruim, pois tá aí a grande oportunidade de identificarmos e vencermos um
defeito.
Ele ainda acrescenta que o
insulto e a crítica é um reflexo das próprias debilidades de quem as pratica. Mesmo
quando estamos certos em corrigir o outro, a crítica é um reflexo de nossas próprias
dores. Devemos evitar a crítica, mas se fizermos, devemos olhar para dentro. Porque
o primeiro destinatário de nossa critica é a gente mesmo. Posso até estar certo
em criticar alguém, mas primeiro de tudo critico a mim mesmo. E tá aí outra
grande oportunidade de identificar e corrigir um defeito. Então, insultando ou
recebendo insultos podemos conhecer a nós mesmos e evoluirmos como pessoas. Fazendo
ou recebendo críticas nos mostra que a chave não está no outro, mas sim dentro
de nós mesmos, pois é o que pensamos intimamente é que diz o somos e não nossa aparência
que é uma máscara.
Imagen: The Inferno, Canto 29, lines 4-6 (detail) Gustave Doré 1890
Imagen: The Inferno, Canto 29, lines 4-6 (detail) Gustave Doré 1890
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