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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Do Ser e da Aparência

     Do Ser e da Aparência
     Este artigo se trata de um acompanhamento reflexão de uma palestra de Leandro Karnal.

     O que pode nos fazer feliz? O quê eu não sei, mas Leandro Karnal nos diz em uma palestra que não é o que o mundo diz o que somos que vai nos fazer felizes. Diz ainda que é o que pesamos que poderá nos trazer alguma felicidade. O que construímos mentalmente é que nos faz felizes ou infelizes.
      Lembro-me de outro autor, Vitor Frankl, que fala que o ser humano tem uma única liberdade: que é de escolher como vamos ser afetados pelos acontecimentos que não dependem de nós. Frankl foi prisioneiro dos campos de concentração, e lá, em meio a toda aquela barbárie, ele viu que poderiam tirar tudo dele menos essa liberdade íntima de poder escolher como reagir a todas aquelas coisas.
Então será que é o que pensamos que determina as pegadas que deixaremos no mundo?

     O que pensamos está dentro de nós. E o mundo não olhará para isso. O mundo procura o externo para ver e julgar. Ou seja, o mundo nos mede pelo que parecemos ser. Eu sou um, mas o mundo me olha e me mede pelo que pareço ser. E agora como resolver esse impasse? É só fazer o nosso exterior, nossa aparência, parecer o mais possível com o que pesamos interiormente. A isso podemos chamar de coerência e de integridade.

     A teoria é bem simples, mas na prática... Basta ser o mais coerente possível com o que pensa e com o que faz. Deste modo aquilo que se pensa é refletido naquilo que se faz e o mundo nos medirá pelo que somos de verdade.

     O mundo nos mede pelo que parecemos ser e nós medimos o mundo pelo que ele parece ser. E pior, medimos o mundo comparando ele com outra coisa, geralmente, para piorar as coisas, com a gente mesmo. Para exemplificar: eu olho para o outro e vejo sua aparência, e a comparo com a minha aparência. Isso é um duplo erro, pois a comparação gera ainda mais ilusão. Eu sou alto perante alguém baixo. Só me acho feio porque tem alguém mais anatomicamente harmônico que eu. Com o qual me comparo e me acho feio.

     Leandro Karnal lança um belo exemplo, um ditado português: “o insulto é como um veneno, só funciona se beber”. Quando alguém nos insulta ou nos agride nos podemos escolher beber deste veneno ou não. Se bebermos do veneno significa que nos identificamos com o insulto. E isso não é ruim, pois tá aí a grande oportunidade de identificarmos e vencermos um defeito.
Ele ainda acrescenta que o insulto e a crítica é um reflexo das próprias debilidades de quem as pratica. Mesmo quando estamos certos em corrigir o outro, a crítica é um reflexo de nossas próprias dores. Devemos evitar a crítica, mas se fizermos, devemos olhar para dentro. Porque o primeiro destinatário de nossa critica é a gente mesmo. Posso até estar certo em criticar alguém, mas primeiro de tudo critico a mim mesmo. E tá aí outra grande oportunidade de identificar e corrigir um defeito. Então, insultando ou recebendo insultos podemos conhecer a nós mesmos e evoluirmos como pessoas. Fazendo ou recebendo críticas nos mostra que a chave não está no outro, mas sim dentro de nós mesmos, pois é o que pensamos intimamente é que diz o somos e não nossa aparência que é uma máscara.

Imagen: The Inferno, Canto 29, lines 4-6 (detail) Gustave Doré 1890

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