Ouvir, ler e ver
Eu não lido
bem com línguas estrangeiras. Nem ao menos o básico eu sei, mas amo ouvir as
grandes melodias internacionais acompanhando a letra traduzida. É bem comum
pessoas ouvirem músicas internacionais e não terem ideia do que elas falam, mas
o ritmo, os instrumentos, as vozes e todo o conjunto em harmonia contagiam de
tal modo que não importa o que significam; de alguma forma captamos sua beleza.
Mas às vezes é bom dedicar um tempinho para investigar do que elas falam.
Recentemente ouve
a música “wish you were here” (Eu queria que você estivesse aqui) da banda Pink
Floyd.
A letra
começa com indagações pertinentes a uma questão em particular: conseguimos
distinguir, isto é, diferenciar adequadamente as coisas opostas na vida?
Sabemos mesmo o que é real e o que é ilusório? Como diz na música, sabemos
distinguir um sorriso de uma máscara?
A música
afirma que trocamos um papel figurante na guerra por um papel principal na
cela. Preferimos a prisão das formas já estipuladas do que a liberdade de ousar
diferente. Mais a frente na canção, ela nos diz que somos almas andando, ano
após ano, sempre sobre o mesmo chão.
E após andar
muito, o que encontramos, é mais uma pergunta da letra. E ela responde que
encontramos os mesmos velhos medos.
Faz-me
lembrar de Sêneca, um filósofo estoico da antiguidade que dizia que por mais
que o homem o viaje, nunca poderá se livrar dos amargos da vida, pois, seja
onde for, o homem é perseguido pelos seus próprios amargores. Podemos ir para o
lugar mais belo e calmo do planeta, mas se estivermos caóticos por dentro
enxergáramos caos por fora também.
Também me faz
lembrar um livro, O Falecido Matia Pascal de Luigi Pirandello, um italiano
nascido em 1867. O romance relata a vida de um jovem que se encontra em uma
monótona situação, desprezado pela família, com um emprego medíocre e
endividado. Mas num golpe de sorte fatura uma bolada em um cassino e é tido
como morto por engano. Se aproveitando da situação, muda-se para outro lugar,
muda a aparência e de nome e torna-se noutro homem; num mais importante e
distinto. Mas a vida antiga o persegue onde quer que ele vá. Andou e fugiu
muito, mas mesmo assim o que encontrou foram os mesmos velhos medos.
Não devemos
trocar o nosso papel figurante na guerra por um papel principal na cela, sendo
que “é de batalhas que se vive a vida”. (Tente outra vez de Raul Seixas)
E como uma
coisa leva a outra, esta canção me fez querer ver um filme encantador ligado a
ela (Na Natureza Selvagem). Bem, quanto ao filme ainda não tenho muito a dizer.
(...)
Depois de ver
ao filme e de ter escrito essas coisas ai em cima, tenho algumas palavras a
acrescentar. A felicidade jamais esteve muito longe da vida que tenho como
pensei que poderia estar. Na verdade, acredito que a busca de equilíbrio e de
harmonia entre as coisas opostas da vida conduz àquilo que muitos filósofos se
esforçaram para ter e descrever: a felicidade.
Nietzsche nos
sugere que a felicidade não poderia estar noutro lugar senão na afirmação da
vida, mas não uma vida que se deseja, mas a vida tal como ela é com seus doces
e amargos.
Neste ponto
retorno para a música que me pergunta se sei distinguir o paraíso do inferno. O
paraíso é o equilíbrio harmônico dos opostos e o inferno é a desarmonia, o
desequilíbrio, o caos e os extremismos; desordem externa e internamente.
Agora
pretendo ler o livro Felicidade Conjugal de Tolstói, que foi um dos livros
citados no filme. Como disse antes, uma coisa leva à outra como se fosse
providência divina. Se me mantiver forte no caminho de pequenos sinais da vida,
quem sabe um dia, não encontre a sabedoria. (sorrisos)
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